sábado, 27 de junho de 2015

Ambição ( À Tininha)

Não!                                  
Eu sei que não foi sonho,
nem visão,
quem me guiou para ti!
Andava pelas ruas
errante e vago,
passos perdidos,
vida sem afago, olhos presos
na sombra da noite que avançava,
quando uma luzinha
que no firmamento
bem perto da lua
estava,
me disse:
" O teu caminho é por aqui!"
E eu, louco,
segui-lhe o rasto,
beijei-lhe os passos,
cheio de alento
que a luz que dela vinha
me inundava!
Não olhei para trás,
pisei sonho, imagens,
atravessei o lago das miragens,
passei a floresta dos gnomos
e bati-lhe à porta.
Entrei
e só me quedei
quando te vi!
Morto de cansado
ébrio de sede,
a teus pés ajoelhei
e pedi que me desses de beber!
Tu sorriste
Levantaste-te
deste-me a mão,
ajudaste-me
a arrastar os pés p'lo chão!
Depois...
Deste-me a boca,
que beijei com fúria louca
e sinto que adormeci!
Ao acordar,
ébrio ainda de sede de beijos
rompia o alvorecer!
E agora,
que a toda a hora
o coração
me diz que não foi sonho nem visão,
agora,
que a mesma sede me atormenta
e surge a dor,
diz-me que não foi sonho,
meu amor!

Setembro de 1952
António