quarta-feira, 30 de março de 2016

Eternidade

Um dia,
Quedei-me a olhar
A minha sombra,
Que morria
Nas manchas que o luar
Deixava sobre a terra.
E a sombra era tão fria,
Que eu tremia
E levantei a gola do casaco!
Fiquei a olhá-la,
Perdido no tempo e no espaço
E tive medo de mim!
Pois a a sombra era tão fria,
Tão negra e tão esguia,
Que mais parecia
O cipreste de um jardim...
Mas nesse dia, eu,
Era pior que a sombra que morreu!
Fui há dias visitar
Aquele triste lugar,
Negro e gélido,
Onde a sombra aparecia
E morria,
Sob as manchas do luar!
Quedei-me a olhá-la
E não vi a sombra do meu eu
Que morreu!
Ouvi cantos e gorgeios,
Tive anelos e anseios,
Vivi sonhos e tormentos,
E os mais belos pensamentos
À minha volta se adensaram!
Pasmei por me ver assim,
Tão alegre, tão diferente,
Olhei o céu no poente,
P'ra saber ao que devia
Tão grande transformação!
Saltava-me o coração
E nos olhos dançava um querubim
Que troçava e ria,
E trazia
Na mão um nome: Tininha!
Então baixei o rosto,
E na sombra clara do sol posto
Vi a tua sombra unida à minha.

António
8 - 10- 1952







quinta-feira, 3 de março de 2016

Juro

Ao António

Eu não te queria afirmar
Pois sei que juras de amor
Quase não têm valor
E não vale a pena jurar.

Mas para mim é diferente
Quero jurar porque é melhor,
P'ra saberes que o meu amor
Durará eternamente!

Ouve amor: juro por Deus,
Pela luz dos olhos meus,
Por tudo te quero jurar,

Que esta boca que tu beijas,
Onde quer que tu estejas,
Nenhum outro há-de beijar!

Maria Clotilde
7- 10-1952