quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Os combatentes

No final dos anos 30, num Lar para veteranos militares, ainda viviam uns quatro ou cinco ex-combatentes da Guerra de 1914-1918. Eram todos medalhados, mas já desmemoriados e doentes. O capitão Pina, o alferes Vieira e o cabo rancheiro Pedro são dos que me lembro melhor.
À noite, reuniam-se no salão para ver jogar partidas de xadrez, ping-pong e bisca. O capitão Pina arrastava os pés e sentava-se a um canto, longe de tudo e de todos.
O alferes, que usava uma viseira no olho direito, era um filósofo, e não raro fazia grandes discursos invocando e elogiando a fundadora do Lar, a Princesa D. Maria Francisca Benedita, misturados com citações de filósofos gregos e impropérios contra o Governo da altura.
O cabo Pedro andava de cadeira de rodas, pois tinha ambas as pernas amputadas; mas era o que tinha melhor memória e a Batalha de La Lys era uma constante recordação, pois lá tinha sido gravemente ferido, o que levou à amputação das pernas.
Eram os sobreviventes de uma guerra longínqua, dramática e que, como diria o alferes Vieira, não tinha melhorado o mundo. Como todas as guerras: dispensáveis, diria eu...