quarta-feira, 17 de março de 2021

 A propósito do anúncio Coca-Cola Light que regressou com outro protagonista , trago-vos hoje este escrito da minha mãe.


" Os galãs

Os filmes antigos de Hollywood que passam nos canais de cinema da TV Cabo e também na RTP Memória, têm a grande vantagem, entre outras, de me fazerem recordar os bonitos actores do meu tempo que tantas vezes me fizeram suspirar. Eram homens fisicamente elegantes, sempre de rosto magro e sorriso de estarrecer. E depois eram heróis românticos que seduziam a bela rapariga que com eles contracenava. Casavam e eram felizes para sempre... Mas se houvesse drama à mistura era melhor e se não acabasse bem também não me importava que eu não sou muito adepta de finais piegas.
Filmes da 2ª Guerra com uma história de amor pelo meio eram os meus preferidos.
Agora, neste momento, estou a ver o Charlton Heston no " Major Dundee" e aquela farda azul dos nortistas sempre aprumados e impecáveis fica-lhe mesmo bem. Não foi assim? E isso o que tem? Eram heróis e bastava. Pertenciam ao 7º de Cavalaria que chegava no momento certo.
Que grandes filmes que fizeram sonhar gerações de jovens! Abençoados porque nos fizeram felizes.

Maria Clotilde Eustáquio, Fevereiro de 2009"

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 Janeiro é o mês da minha mãe. Nasceu e morreu em Janeiro e foi também em Janeiro que escreveu este texto que hoje partilho convosco.

"Compagnons de route
A minha paixão por livros começou aí pelos 6 ou 7 anos quando, retida em casa com tosse convulsa e já sabendo ler, fui presenteada pelo meu irmão Lito com um livro todos os dias. Eram da colecção Manecas, coloridos, de leitura fácil porque de letras grandes e folhas de poucas linhas (umas dez por página). Lembro-me bem de " A ilha dos cozinheiros", "O aprendiz de feiticeiro", "O anão amarelo" para além dos clássicos. Depois, por volta da entrada para o Liceu, 11 anos, li romances que não percebi bem e que só mais tarde aprendi a gostar. Entre eles bastantes de Érico Veríssimo. Isto à mistura com "O Mosquito", o" Sr. Doutor" o " Pim-Pam-Pum" e até os " Texas Jack" do meu irmão. Seguiram-se "Os Três Mosqueteiros" em versão antiga e em português do séc. XIX e os outros a seguir, " O Visconde de Bragelonne" e "20 anos depois". Depois foi tudo o que apanhei à mão. Indiscriminadamente. Bom e mau. Há então a idade do romance cor-de-rosa que por acaso eram de capa azul, Max du Veuzit, Mary Love, Magali. Por essa altura tinha grandes amigos rapazes que me emprestavam os de capa e espada de que gostei especialmente. Há uma idade, 16, 17, por aí fora em que lia compulsivamente. Dois e três livros por dia. Durante o serão, no quarto, com ao candeeiro quase dentro da cama. Aí são os autores portugueses. Os proibidos e também romances de jornalistas, Guedes de Amorim, Manuel Martinho, Guedes de Dion, Carmem de Figueiredo e Etelvina Lopes de Almeida. Não parei mais. O meu namoro com o António também foi com troca de livros. Nessa altura a colecção " Livros do Brasil". Não posso citar um preferido, foram tantos! Tal como os filmes não sou capaz de escolher só um. Não poderia viver sem livros à minha volta, são parte de mim e todos, todos mesmo, me ensinaram muito. A vida, tal como a considero hoje, foi-me em grande parte dada por aquilo que li. Não resisto, quando vou a Lisboa, a visitar a Bertrand. Venho sempre com mais um carregamento que francamente já não sei onde pôr.
Livros. livros, companheiros de uma vida!"
Maria Clotilde Eustáquio
Portalegre, 31/1/2009