terça-feira, 13 de julho de 2010

A galinha gorda

Era um rapaz do campo, corado, moreno, de cabelo preto e encaracolado, cheio de vida e com a força dos 20 anos; estava a cumprir o serviço militar num batalhão de província e era impedido de um oficial, cuja família era, na altura, apenas composta por pai e filha adolescente.
Sempre bem disposto, costumava cantarolar no quintal as "saias" lá da aldeia:

Minha vida são castanhas
Cozidas com beldroegas
Eu a saber-te das manhas
E não sei pra que mas negas

Pai e filha comiam do restaurante, mas com o correr do tempo a comida tornou-se intragável, aquele menú sempre igual e a saber ao mesmo; dizia a filha que sabia a água da loiça.
Acabavam por jantar torradas, café com leite e alguma fruta. O jantar lá ia para o impedido, que depois de ter comido o rancho ainda conseguia engolir um segundo jantar inteirinho.
Engordou, este já de si corpulento rapaz. Brilhavam-lhe as faces coradas e os olhos, de um azul muito claro. Acabou o serviço militar, depediu-se e foi para a terra, a poucos quilómetros da cidade.
Passados alguns anos, apareceu em casa da jovem, entretanto já casada: trazia um cesto e lá dentro vinha uma grande e gorda galinha, com um ar tão saudável como ele.
-Trouxe a galinha para a menina comer, mais o seu marido. Andei a engordá-la, como a menina me engordou a mim. Que lhe faça bom proveito!

2 comentários:

Isabel I disse...

E há lá coisa mais bonita que a gratidão?

zira disse...

He!he!he! até parece que estou a "vê-lo" de tão bem parecido...