quarta-feira, 17 de março de 2021

 Janeiro é o mês da minha mãe. Nasceu e morreu em Janeiro e foi também em Janeiro que escreveu este texto que hoje partilho convosco.

"Compagnons de route
A minha paixão por livros começou aí pelos 6 ou 7 anos quando, retida em casa com tosse convulsa e já sabendo ler, fui presenteada pelo meu irmão Lito com um livro todos os dias. Eram da colecção Manecas, coloridos, de leitura fácil porque de letras grandes e folhas de poucas linhas (umas dez por página). Lembro-me bem de " A ilha dos cozinheiros", "O aprendiz de feiticeiro", "O anão amarelo" para além dos clássicos. Depois, por volta da entrada para o Liceu, 11 anos, li romances que não percebi bem e que só mais tarde aprendi a gostar. Entre eles bastantes de Érico Veríssimo. Isto à mistura com "O Mosquito", o" Sr. Doutor" o " Pim-Pam-Pum" e até os " Texas Jack" do meu irmão. Seguiram-se "Os Três Mosqueteiros" em versão antiga e em português do séc. XIX e os outros a seguir, " O Visconde de Bragelonne" e "20 anos depois". Depois foi tudo o que apanhei à mão. Indiscriminadamente. Bom e mau. Há então a idade do romance cor-de-rosa que por acaso eram de capa azul, Max du Veuzit, Mary Love, Magali. Por essa altura tinha grandes amigos rapazes que me emprestavam os de capa e espada de que gostei especialmente. Há uma idade, 16, 17, por aí fora em que lia compulsivamente. Dois e três livros por dia. Durante o serão, no quarto, com ao candeeiro quase dentro da cama. Aí são os autores portugueses. Os proibidos e também romances de jornalistas, Guedes de Amorim, Manuel Martinho, Guedes de Dion, Carmem de Figueiredo e Etelvina Lopes de Almeida. Não parei mais. O meu namoro com o António também foi com troca de livros. Nessa altura a colecção " Livros do Brasil". Não posso citar um preferido, foram tantos! Tal como os filmes não sou capaz de escolher só um. Não poderia viver sem livros à minha volta, são parte de mim e todos, todos mesmo, me ensinaram muito. A vida, tal como a considero hoje, foi-me em grande parte dada por aquilo que li. Não resisto, quando vou a Lisboa, a visitar a Bertrand. Venho sempre com mais um carregamento que francamente já não sei onde pôr.
Livros. livros, companheiros de uma vida!"
Maria Clotilde Eustáquio
Portalegre, 31/1/2009


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