domingo, 31 de agosto de 2008

Os gloriosos dias da marmelada

Talvez seja só imaginação, mas quando eu era criança o Outono tinha mais dias de sol que o de hoje. Se não fosse assim, por que se punham então ao sol as tigelas de marmelada tapadas com papel de seda? Tinha que haver sol, e sol bem quente, disso não tenho dúvidas!
Era um alarido naquela cozinha. Tachos por todo o lado, o fogão com o máximo de lenha e, principalmente, o cheiro do açúcar em ponto e a fila de tigelas de louça de Sacavém ainda vazias, prontas para receber aquele creme cor de âmbar, fumegante e cheiroso.
Depois era a geleia que, para atingir o ponto ideal, levava a tarde toda, e havia turnos para a mexer com a colher de pau. O raspar dos tachos pertencia-me e ao meu Pai, os dois gulosos da casa.
Guardo a recordação de tudo isto, juntamente com os sabores e os cheiros da minha cozinha, naqueles gloriosos dias da marmelada.
"Menina, não venhas para a cozinha, que levas lá para dentro os sapatos todos sujos..."

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