sábado, 20 de dezembro de 2008

A Noite das Noites

Eram duas da manhã, e a D. Ana continuava amassando as filhós, que dizia não tardariam a ficar prontas.
Tínhamos jantado tarde porque era noite de Natal. Alguns doces já se tinham comido, mas as filhós é que não havia meio.
- Dão muito trabalho - dizia ela, com a sua voz calma e arrastada- mas é só acrescentar mais um pouco de farinha e de aguardente e ficam prontas.
Eu dormitava à camilha, junto da braseira onde ardiam as brasas que vinham do fogão de lenha. As azevias de grão estavam prontas e polvilhadas com açúcar e canela.
E a conversa continuava, à mistura com pingorretas de café requentado.
Lá de dentro, de um dos quartos, veio uma voz que dizia já ser tarde e horas de dormir. A tia encostou a porta e agora falavam mais baixo.
O dia quase clareava, e as filhós continuavam no alguidar de barro vidrado.
Do Presépio, o Menino Jesus sorriu-me. Estaria Ele também à espera das filhós?

3 comentários:

Isabel I disse...

Também já houve um tempo em que eu amassava as filhós e gostava muito. Mas as hérnias discais já não deixam e principalmente já cá não está o meu principal incentivador. O pai gostava sempre delas mesmo quando a massa ficava rija.Era por ele e para ele que eu as fazia. Mas nunca tive muito jeito, pois não? Isabel Ifodsis

|b| disse...

eu também fiz. Até acho que há fotografias que o comprovam. E as minhas eram bem bonitas.. mas só eu é que as comia.

Catarina disse...

eu na altura era parvinha de todo e acho que não as comia...