segunda-feira, 13 de abril de 2009

Carmencita

A meio da década de 40, ouvia-se muito a Amália Rodrigues na rádio e o filme "Capas negras", do qual ela era protaganista, tinha grande sucesso. Eu sabia as letras dos fados de cor (tinha-as pedido pelo Correio para a Valentim de Carvalho), mas havia um que adorava cantar: "Carmencita".
Da coberta de uma mala fiz um xaile, punha uma flor vermelha ao peito, soltava o cabelo e pintava os lábios para fora, para a boca parecer maior. Aparecia detrás das cortinas da sala, para cantar para um espectador apenas: o meu Pai, que lia o jornal. Nessa altura, já a minha Mãe estava doente e a minha tia andava com a lida da casa a seu cargo.
- Pai, deixe o jornal e bata palmas!
- Não sabes cantar outra coisa? Já começo a estar farto da Carmencita...
Mudei o reportório, mas depois ele já não tinha tempo para me ouvir.

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