segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O baton rosa-velho

Ir a Badajoz há sessenta anos era uma aventura. Seriam, no mínimo duas etapas: primeiro ir de Portalegre a Elvas de camioneta e depois de Elvas a Badajoz de qualquer maneira.
Nesse dia, foi exactamente assim. Resolvemos ir e fomos. De Elvas para Badajoz, a viagem fez-se no carro do Virgílio, que tinha que lá ir em serviço. Trocamos os escudos por pesetas com grande lucro ( nesse tempo, um escudo comprava duas pesetas) e lá fomos, eu e a minha prima Isabel.
Fizemos as nossas compras e demo-nos ao prazer de passear pela calle de S. Juan, onde, na altura, se situavam as melhores lojas. Só as duas, felizes da vida, de compras. De tudo o que comprei, o que mais me agradou foi um tecido de seda para um vestido. Era cor-de-rosa velho, como então se dizia, com bolas brancas.
O nosso regresso foi num taxi velhíssimo, com um radio ensurdecedor e roufenho, que o motorista trazia no máximo. A recordação ainda hoje perdura, juntamente com a do caixeiro da "Alba" subindo o escadote para tirar uma garrafa de "Fundador"que lhe ficou na mão, quando verificámos que já não chegavam as pesetas e saimos a correr, envergonhadas...
Enfim, o vestido foi feito. Ficou bonito porque a Celeste se esmerou, e durou anos. Mais tarde foi transformado e chegou até ao fim dos anos sessenta.
Há dias, ao comprar um baton numa perfumaria do Colombo, a Ana disse-me: "Compre este baton rosa-velho, Mãe, faz-me lembrar um vestido dessa cor que é a minha mais remota recordação de criança"...

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