terça-feira, 2 de setembro de 2008

A poesia

Estava combinado. Ele ia recitar uma poesia na festa de Natal do Infantário. Andou a ensaiar e estava tudo na ponta da língua. Quando o dia chegou, a avó e as tias, atrasadas, subiram a correr a rua inclinada e sentaram-se, esfalfadas, nas cadeiras duras de fórmica castanha.
Uma menina cantou " O sapo" e depois quatro meninas dançaram um "vira" mais ou menos minhoto. A seguir vinha ele: os corações bateram mais depressa, era agora. Entrou, finalmente, e o microfone foi descido à altura de pouco mais de dois palmos. Sereno, fitou a assistência e disse:
"Eu digo lá na minha casa, tá bem?"
Rodou e foi-se por onde tinha vindo. Nem mais!

2 comentários:

JB disse...

...e ele voltou a fazê-lo no dia do seu casamento!
a emoção fazia-nos tremer as mãos e os corações.
seria ele o primeiro a dizer os votos...baixinho...bem sussurrado, como tínhamos combinado.
quando todos pediram que os partilhássemos... com a voz embargada e os olhos em lágrimas disse:
nós dizemos um ao outro lá em casa.
....há coisas que não mudam!

Sação disse...

Pois no meu casamento não falou baixinho nem sussurrou, antes pelo contrário...