domingo, 22 de março de 2009

O charrueco

Tinha a garagem no rés-do-chão do prédio ao lado do meu e lá guardava o "Ford" de calça arregaçada que usava principalmente para se deslocar à Serra de S. Mamede, onde tinha uma quinta. Quando punha o carro a trabalhar, ainda na garagem, os prédios tremiam. "Lá vai ele sair" e, porque era realmente um espectáculo, eu ia à janela, para ver o que hoje daria um "sketch" humorístico de primeira: de guarda-pó quase até aos pés, o cónego dava à manivela com o "capot" levantado durante largos minutos. O carro rugia, para logo a seguir ficar em silêncio. Novamente a manivela, e finalmente um pulo para dentro do carro.
Nessa altura, já se tinham juntado uma dúzia de garotos que empurravam o carro até ele pegar completamente; sentado ao volante, o cónego mandava de lá castanhas secas, que os miúdos apanhavam no ar e do chão com grande alarido.
Por isso se dizia que o charrueco do padre andava a castanhas secas...

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