quarta-feira, 11 de março de 2009

Setenta vezes Sete

Ela tinha acabado de levantar a mesa do almoço. Estava sozinha quando bateram à porta, e foi abrir. Para seu espanto, apareceu-lhe um franciscano idoso, com aspecto cansado, que lhe pediu alguma coisa de comer. Ela convidou-o a entrar, mas o monge não quis. Falava espanhol mas entendia o português. Ela subiu as escadas, foi à cozinha e trouxe-lhe algumas coisas que tinham sobrado do almoço. Sentado no degrau, ele comeu e pediu água. Depois agradeceu muito e perguntou se haveria na cidade algum albergue onde pernoitar. Claro que havia, ela indicou-lho e ofereceu-se para o levar lá. Não era preciso, ele perguntaria e de certeza que ia encontrar. Ela ainda lhe meteu na mão algum dinheiro, de facto todo o pouco que tinha em casa e que era, naqueles dias sem multibanco, tudo o que teria até ao fim do mês...
Ficou impressionada toda a tarde. Não tardou em receber um recado: o marido mandava dizer que uns parentes iriam lá a casa para a ver. Chegaram, não se demoraram, e à saída meteram-lhe no bolso do vestido uma ajuda para o enxoval do bébé que estava para nascer. Quando eles saíram, ela levou a mão ao bolso e viu que o que lhe tinham dado era dez vezes mais do que o que ela tinha dado ao franciscano.
Muito tempo depois, contou ao marido. A vida também é feita destas coisas misteriosas que não se explicam, mas que se sentem do fundo da alma.

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